Quem sou eu

Sou um cara que ama a vida e tudo que ela tem a oferecer. Praticante de esportes de aventura, apaixonado por todo tipo de esporte que trabalhe a mente e o corpo de forma una e eletrizante. Degustem á vontade!

sábado, 16 de abril de 2011

Há um Porquê?

Olá, eu sou o Andrei, aonde estou não tem um nome, mas isso não importa, vou lhes contar minha história, de como tudo começou até eu vir parar aqui...

Eu era apenas uma criança de seus cinco anos de idade, vê meu pai ali caido no chão da sala, ensopado de suor e apertando o peito com um olhar de sofrimento e suplica foi apavorante, a memória se desvanece, e volta com a imagem de um pequeno grupo de pessoas entrando em casa, carregando-o e depositando-o no banco de trás de um carro para em seguida saírem a toda velocidade, minha mãe vai atrás, chorando muito. Aquele tinha sido o segundo infarto que meu pai havia sofrido, ficou internado alguns meses em Brasília e voltou forte como um touro, contudo tornou-se tão violento quanto um touro de rodeio. Meu pai era um homem grande, olhos verdes claros e um cabelo escuro curto. Era pintor de parede e dispensava todo o dinheiro adquirido em seu trabalho nos botecos do bairro em que morávamos. Descarregava em minha mãe, e às vezes em nós quatro, eu, minha irmã mais velha, meu irmão, “o terceiro”, e a caçula de seus poucos meses de idade, um ódio incompreensível, como se só por existirmos fôssemos culpados por toda as suas frustrações.

Não gosto de histórias tristes, o mundo "ta" cheio delas, tenho que fazer de forma diferente, fazê-la parecer excitante ao invés de sofredora. Não é uma tarefa tão difícil quando me lembro dos amigos que eu tive naquele beco localizado em uma área movimentada da cidade, éramos alegres, e quando brincávamos de pique-esconde tudo que era de ruim parecia deixar de existir. Não continuei morando lá por muito tempo, quase dois anos depois do segundo infarto do meu pai, veio o terceiro, ainda não entendia do que se tratava, mas sabia que era algo muito ruim, pois todas as pessoas da rua estavam em casa, algumas choravam, outras discutiam baixinho, minha mãe sentada no sofá fixava um ponto qualquer na parede encardida e projetava sua mente para os confins do universo, aonde meu pai talvez pudesse se recuperar. Minha mãe era uma mulher baixinha, cabelos escuros que caiam em seus ombros e escorriam até o meio de suas costas, muito bonita, também muito apaixonada pelo homem que estava em algum lugar sem saber que estava entre a vida e a morte, só dormia enquanto as máquinas faziam o possível para mantê-lo do lado de cá do mundo.

Um terceiro infarto parece até mentira, ele realmente era forte como um touro, sobreviveu a mais esse, porém ficou muito mais tempo internado, agora em Salvador. Período tenso, cada um dos meus irmãos seguiram para um lado diferente, eu segui com minha mãe para salvador para acompanhar a recuperação do meu pai, minha irmã mais velha e a mais nova já com 2 anos de idade seguiram para a casa da minha avó, o outro irmão, “o terceiro”, foi morar com um tio nosso numa fazenda da família. Não foi tão ruim assim, eu não entendia nada mesmo que estava acontecendo, iria até a faixa de gaza em dia de enfrentamento intenso se me levassem. Em Salvador Conheci o elevador Lacerda, a praia da Barra e a da Pituba, aonde uma onda me pegou de jeito, me fazendo descobrir o por que que a água do mar não pode ser bebida.

Meu pai estava proibido de fumar, beber, ingerir qualquer tipo de droga, comer coisas gordurosas, coisas açucaradas e mais uma infinidade de proibições e restrições. Essas coisas foram impostas a ele quando ainda estava no leito hospital, mas toda vez que minha mãe me levava ao hospital para visitá-lo, ela saia para conversar com médico sobre a situação do infartado, e eu ficava lá do lado da cama vendo-o pegar um cigarro sob o colchão, acendê-lo e soltar generosas baforadas em meu rosto, indiferente ao incômodo que eu expressava ao fechar a cara e tentar afastar a fumaça com as mãos.

A estada na capital baiana durou seis meses, além das praias e do elevador eu conheci as histórias da turma da Mônica e o Super Mario, o triangulo amoroso perdura até os dias de hoje.

Passaram-se vários anos, me tornei um jovem presunçoso e em alguns pontos arrogante como o pai, auto-crítica é um forte meu, tenho que admitir que isso é uma merda. Não possuía relação alguma com meu pai nesses tempos agitados, e tudo que havia em mim que diziam ser uma herança dele, eu tentava evitar, a forma como eu andava, como eu falava, com me comportava com as mulheres, entre outras características menos nobres que não valem apena serem mencionadas.

Em uma chuvosa tarde de quinta, recebi uma mensagem que surpreendentemente me abalou mais do que eu esperava. Sobreveio o quarto infarto ao meu genitor, mas desse ele não conseguiu escapar, a morte ceifou sua vida depois de muita insistência. Felizmente o choque inicial foi somente o choque inicial, logo vi que não fazia diferença se ele estava vivo ou não, não nos falávamos mais, e isso provavelmente não viria mais ocorrer mesmo ele estando vivo. Realizou-se seu enterro uns dois dias depois do seu falecimento, nesse dia eu estava no planalto central curtindo um baile funk como se nada tivesse acontecido.

Em uma madrugada então acordei de um sonho estranho do qual mais tarde não consegui me lembrar dos detalhes, uma súbita vontade de tentar entender o porquê de certas coisas da vida tomou conta de minha mente, quase como uma obsessão, talvez uma viagem ao Tibet para uma reflexão mais profunda me ajudasse, como a Ásia estava longe demais para se ir de moto, resolvi explorar meu território nacional... Dispensei tudo que não me seria útil numa aventura como essa. Somente uma bolsa cargueira com algumas roupas e artigos de necessidades básicas, um jeans e uma camisa qualquer no corpo mais a moto me levariam do Monte Caburaí ao Chuí, da nascente do Rio Moa ao Ponta do Seixas, me levaria pela transamazônica, ás dunas no Maranhão, ao Pico da Neblina no Amazonas , á nascente do São Francisco em Minas Gerais, ao Jalapão no Tocantins, á chapada dos Veadeiros no Goiás, ao Répteis do Pantanal, às Cataratas do Iguaçu, ao show do Capital Inicial em São Paulo...

As coisas não têm um por que, foi a conclusão a qual cheguei depois de muito tempo na estrada, se tem, eu teria que passar várias gerações refletindo, ainda assim eu creio que não conseguiria um porquê plausível. O amor e o ódio, a alegria de uns a tristeza de outros, a boa vida social de uns e a solidão de outros, a riqueza e pobreza, a popularidade escolar e o tal Bullyng, a traição e a fidelidade, a fé e a descrença, a vida e a morte.

Como um robô de Asimov que entrou em pane por não conseguir processar as informações contraditórias que lhe foram impostas, eu me desliguei de tudo, a moto a mais de 140 km/h rasgava a rodovia, os óculos escuros não permitiriam que sondassem meu olhar caso tivesse alguém por ali, mas se pudessem ver meus olhos, veriam um olhar distante, um sorriso no rosto, como de alguém que se sente a pessoa mais livre do mundo e nada mais importa. A estrada traçou repentinamente uma curva que se mostrou bem fechada, sem me dar conta, passei em uma falha da proteção de metal para alçar vôo por sobre um penhasco como um caça de guerra que estivesse saindo de um porta-aviões. Aquele era o fim de uma busca utópica e solitária pela verdade.

No laudo pericial do acidente constava o depoimento de um homem que na ocasião banhava em um riacho que corria logo mais embaixo do penhasco, dizia que viu uma moto com um homem sobre ela a cruzar os ares por uns breves segundos como uma estrela cadente motorizada singrando os céus, então o sol ofuscou sua visão por um momento, ao acostumar a visão novamente ele viu que a moto descia em velocidade vertiginosa em direção ás rochas, mas o homem não estava mais lá, havia desaparecido com que por mágica. A polícia nunca conseguiu achar nenhum corpo pelas redondezas.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Do lado de lá...

- Ei guri, guri! Acorda, ei acorda, anda – um menino todo coberto por um lençol grosso e sujo sacudia e cutucava uma pessoa que estava deitada sobre um monte de lixo. – Que sono pesado esse seu hein? Melhor você acordar, aqui não é um lugar bom pra ficar.

Com bastante dificuldade a pessoa que estava sendo acordada pelo menino tenta se levantar, mas mal consegue se sentar. Seu rosto estava repleto de escoriações, um dos olhos não abria devido a um inchaço roxo, provavelmente provocado por um soco. Suas roupas criavam um contraste gritante com o ambiente ao redor, ao invés de uma calça, moletom sujo e em frangalhos como a maioria das pessoas que estavam deitados naquele beco estavam usando, ele trajava um jeans limpo e bonito, uma jaqueta de couro e sob a jaqueta uma blusa branca, em seus pés um par de tênis branco, impecável. O pequeno morador do beco ainda tentava despertá-lo.

- Anda moço, acorda. Tavam lhe olhando estranho e lhe cutucando agora pouco, se não fosse eu, tinham levado até suas cuecas, olha lá – Disse apontando na direção de três meninos que corriam para bem longe dali.*

O rapaz se apoio em uma lata de lixo e conseguiu se sentar, olhou ao redor confuso, sua cabeça latejava, o corpo todo reclamava de dores, olhou para o menino e finalmente falou algo.

- Quer lugar é esse?

- Esse lugar é onde eu e aquelas outras pessoas moram – Respondeu apontado para algumas pessoas que estavam deitadas espalhadas pelo beco, todas cobertas por lençóis e papelão. – Aqueles meninos que tavam mexendo com você são do beco que fica do outro lado da avenida, não gosto deles. E você? O que aconteceu pra ta tão machucado assim? Parece q lhe deram uma bela duma “peia” viu!

- Eu não sei, não consigo me lembrar de nada. Ai! – Sentiu uma pontada na nuca e instintivamente levou a mão para o local, sua mão se ensopou de sangue.

-Caramba, deixa eu ver isso – O menino do beco subiu no monte de lixo e olhou para a nuca do rapaz machucado, fazendo uma cara de assombro. – Nossa! Isso aqui ta feio viu, melhor ir no hospital.

-Qual é o seu nome?

-Tatá, muito prazer! – Respondeu estendendo a mão.

-Muito bem tatá – Respondeu o outro ignorando a mão estendida. – Não lhe digo meu nome por que não tenho a menor idéia de qual seja, poderia me ajudar aqui?

- Sim, sim!

Tatá ajudou-o servindo de apoio para que pudesse se equilibrar. Apesar de estar com o rosto todo machucado, tatá pode notar que o jovem era muito bonito. “ Como alguém tão bonito e tão bem vestido pode acabar vindo parar aqui? No mínimo foi assaltado e espancando por aí e jogaram-no aqui depois”.

- Por que ta me olhando assim?

-Sua jaqueta é muito bonita! – Pego de surpresa, foi a melhor desculpa que lhe veio a cabeça.

-É, eu sei.

Os dois caminharam na direção da saída do beco, ao sair, deram de frente com uma avenida bem movimentada. Ao olhar para aqueles carros indo e vindo, uma imagem veio a cabeça do rapaz ferido: Ele dirigia um carro, estava acompanhado, por uma moça, eles discutiam, parou então no acostamento e prosseguiram na discussão, foi então que o vidro do lado do carona estourou e um homem os mandou descer do carro, o homem estava muito nervoso e gritava agitando uma arma de forma ameaçadora, outro homem quebrou o vidro da janela do lado do motorista, então tudo ficou escuro.

- Se você atravessar por aquela passarela ali, poderá ir até o outro lado e chegará á estação do metrô, daqui da pra ver, ta vendo ali? – Tatá o trouxe de volta á realidade, mas seus pensamentos iam longe, acabara de lembrar seu nome.

- Ian, meu nome é Ian!

-Ian? É um nome bonito, ta conseguindo se lembrar de mais o que? – Tatá perguntou sem conseguir esconder a ansiedade e a curiosidade, se sentia feliz por poder fazer algo de importante em sua vida, ajudando seu novo amigo.

- Não vou pegar metrô, vou de ônibus, já sei aonde é minha casa – olhou para o menino que estava lhe ajudando sem nada pedir em troca e perguntou. – Você não quer ir comigo? Até eu chegar á casa da minha família? Quando chegar lá eu te dou uma boa gratificação. E então?

-Vou sim – Respondeu tatá sem titubear.

Perto da entrada da estação do metrô ficava um ponto de ônibus, atravessaram a passarela á passos lentos e enfim chegaram . O primeiro ônibus que chegou era justamente a linha que levava ao bairro que Ian conseguira se Lembrar que morava. O ônibus estava lotado, algumas pessoas já aguardavam no ponto e o encheu ainda mais, subiram e ficaram espremidos próximo ao motorista. Ian então se lembrou que não tinha dinheiro para a passagem e segredou isso á Tatá.

- Tatá, eu não tenho dinheiro, não estou com minha carteira, acho que me levaram em um assalto.

- Relaxa amigo, vou lhe ensinar um truque que faço para andar pela cidade inteira – Tranqüilizou-o Tatá. – E esse “ buzu” ta daquele jeito pra se fazer isso. Só precisa me avisar quando tiver chegando perto do seu ponto, duas paradas antes. Ta bom?

- Tudo bem – Mesmo sem compreender do que se tratava, Ian assentiu.

Os pensamentos de Ian continuavam longe, provocando ainda mais dor de cabeça, um turbilhão de imagens o deixava confuso. Não se lembrava de mais nada após o assalto, só de antes. A moça que estava com ele era sua noiva, Susana, ele não a amava, mas deseja que ela estivesse bem. Se lembrou de sua mãe, do seu pai, de dois irmãos, dos amigos da faculdade. A amnésia passageira estava ficando para trás, e isso o animava. Olhou para uma loja de eletrônicos passando lá fora. “ minha casa fica a 6 quadras daqui”.

- Tatá, daqui a pouco é aonde devemos descer, faça sua mágica!

-Pra já, só me siga, não fale nada. – Tatá apertou o sinal para o ônibus parar no próximo ponto.

O ônibus foi diminuindo a velocidade, a porta de entrada se abriu. Tatá pegou pelo braço de Ian e gritou:

- Vamos descer, rápido, corre.

Ian obedeceu, com muito esforço pulou os degraus de entrada do ônibus e correram na direção oposta ao sentido do ônibus. O ônibus fechou as portas e seguiu seu caminho. Não correram mais que 20 metros, Ian Estatelou-se no chão e começou a praguejar.

Tatá assustou-se com isso, mas relaxou quando começou a perceber que Ian agora sorria ao mesmo tempo que xingava. Ficaram longos minutos rindo ali sentados na calçada.

-Acho que nunca fiz nada parecido com isso, é todo dia isso com você?

- Todo os dias – Tatá respondeu orgulhoso.

-Agora precisamos ir, me ajude aqui de novo, você me quebrou ainda mais me obrigando a fazer essa loucura.

Ian ia refletindo sobre o que lhe acontecera, e sobre o como era cego para tudo quanto não fazia parte do seu mundinho. Nunca parara pra pensar que em meio àqueles becos haviam pessoas que mesmo sofridas ainda eram felizes, que mesmo derrubadas pelas drogas, ainda conseguiam enxergar a magia da vida. Depois que entrara na faculdade esqueceu de tudo o que acreditava ser essencial para ser feliz. A mulher com quem ia se casar ele não amava, os amigos com quem se relacionava eram superficiais e só se importavam com suas marcas de roupa e sobre qual festa foi a melhor. Lembrou-se de quando era adolescente, quando participava de uma ONG como voluntário, ajudando pessoas como Tatá. O tempo passou e de repente, nada disso lhe era mais importante. Se envergonhou ao se comparar com Tatá, que mesmo sendo uma criança, vivendo sozinha nas ruas, passando por todo tipo de privações ainda era feliz, enquanto ele, mesmo podendo ter de tudo, se sentia infeliz, pois nada em sua vida era de verdade, tudo era superficial, ele só seguia um padrão ditado por pessoas ainda mais superficiais. “Maldita vida essa que eu levo!”. Pensou consigo.

- Êita Ian, olha o tanto de coisa ruim ali naquela casa – Tatá chamou a atenção de Ian para a quantidade de viaturas da policia que havia de frente a uma enorme casa.

-Mas aquela é minha casa – Sua voz saiu quase inaudível.

Correu na direção da casa e chegou em tempo de ver sua mãe e um dos seus irmãos entrando em uma das viaturas, eles não estavam sendo presos, visto que entravam sozinhos no banco de trás e não estavam algemados, um dos policiais sentou-se ao lado de sua mãe e conversava algo bem próximo do ouvido dela.

Haviam mais três viaturas, e todas estavam saindo. Ian se dirigiu a uma delas e entrou no banco de trás gritando:

- Eu também tenho que ir, saber o que aconteceu, sou filho dela!

O policial o ignorou, ligou a viatura e acompanhou as outras viaturas. Todo tipo de pensamentos ruins passaram pela mente de Ian, imaginou se não teria ocorrido algo de ruim com Susana, ou com o outro irmão dele, ou até o com seu pai.

-Calma Ian, não se torture – Aconselhou Tatá.

- Ora, nem vi a hora que você entrou – Disse Ian surpreso.

- Entrei logo atrás de você Ian, mas tava tão nervoso olhando pra sua mãe saindo na outra viatura que nem percebeu. Se o policial reclamar, fala que eu tou com você? Por favor?

-Tudo bem – E não falou mais nada.

Dez minutos depois de saírem da porta da Casa de Ian, as viaturas chegaram à um enorme hospital público. Alguns policiais desceram e acompanharam a mãe e o irmão de Ian para o interior do hospital, passaram pela recepção que estava lotada, com pessoas reclamando de dor, outras choravam, enquanto algumas sofriam em silêncio, uma das atendentes perguntou do que se tratava.

- Reconhecimento – Respondeu com frieza o policial inquirido, em seguida entrou por uma porta, os outros o acompanharam.

Ian entrou pela mesma porta que os policiais e sua familia entraram, O corredor em que caminhavam era enorme. Tatá vinha logo atrás dele. A mãe de Ian seguiu com os policiais até última porta do corredor e entraram. Um dos policiais falou:

-Naquela maca senhora.

A mãe e o irmão de Ian caminharam lentamente em direção á maca. A senhora colocou as mãos no rosto e soltou um grito agudo e carregado de sofrimento. O irmão de Ian soluçava de tanto chorar, sobre a maca estava um corpo nu, todo desfigurado, impossível de ser reconhecido pelo rosto. Ian entrou no quarto, se dirigiu á maca, sentiu uma frieza correr por todo o corpo, seu estômago embrulhou, uma sensação de horror o dominou. O corpo que estava sobre a maca, possuía uma tatuagem no peito escrito: Mamãe Sônia, te amo. A mesma tatuagem que ele mandou fazer em si mesmo dois anos atrás.

Tatá olhou com tristeza para Ian, já havia feito sua parte, acompanhou o seu amigo até que ele descobrisse por si só que não estava mais vivo, sem dizer nada virou as costas e sumiu no ar.

*Segundo a doutrina espírita, muitas pessoas ao desencarnar, permanecem presas á terra, à vida que levavam antes da morte. Os motivos são diversos, mas entre eles há a permanência por conta dos vícios mundanos, fumantes, alcoolátras, drogados, pervertidos sexuais. Etc... Tais espíritos vampirizam pessoas vivas que tem o mesmo tipo de vício, continuando assim, a saciar-se mesmo depois de mortos. Os três meninos no caso são espíritos que estão obsediando viciados em drogas por aqueles becos.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Um dia de trabalho

São três horas da manhã, há dias que essa tortura começou. Felizmente em algumas horas ela irá acabar. Isso ocorre sempre que pego um novo serviço com o Alcides. A ansiedade me domina, e com seu sadismo vai me acabando até o último instante. Estou deitado no carpete no meio da sala observando o teto, a escuridão difusa, torna o forro branco em uma outra cor indefinível, que agrada os meus olhos. Minha mente imagina um cripta egípcia, um passo errado, uma armadilha ativada, os grandes blocos laterais vão se aproximando e o superior vai descendo lentamente, apreciando cada segundo do meu desespero de condenado. Desperto do devaneio e volto a minha odiosa realidade. Aqui, no mundo real, é bem pior, nesses dias de ansiedade aguda, eu desenvolvo a claustrofobia, esta aliada á minha ansiedade faz com que eu sinta as paredes de minha sala se fechando, vão crescendo pouco a pouco, uma taquicardia me domina, o suor escorre como uma cascata em minha testa. Depois voltam a posição inicial e com uma frieza cruel começam novamente a sessão de tortura. Uma sensação de alívio domina meu corpo, ao ver pela fresta da porta que o sol já está nascendo. Vou ao banheiro lavar o rosto, preciso agilizar por que não poderei ir com o meu carro, irei de ônibus. O meu banheiro tem vários espelhos, narcisista que sou, há vários outros espalhados por toda a casa. Observando meu rosto, meu corpo nu, analiso cada traço, cada curva, cada músculo, E me lembro dos bons momentos em que me torno amante fiel do querido supino. Faço caretas diante do espelho, direciono minha língua em várias direções. Isso me faz lembrar de uma conversa que eu tive com um amigo meu anos atrás, ele era um educador físico, e sempre dava alguma lição de boa saúde para os seus amigos. Comentou comigo que o sexo oral era bom não só pelo prazer que o homem ou a mulher poderiam ter, mas também pela quantidade de músculos que são trabalhados durante o ato, enrijecendo sua pele, evitando as rugas, fazendo-o parecer sempre jovial. Desde esse dia passei a praticar o ato em mulheres com muito mais freqüência. As pessoas que me visitam não sabem, mas muito dos meus espelhos possuem câmeras por trás delas, tenho uma enorme coleção de vídeos transando na cozinha, na sala, no quarto, e até no banheiro. Nossa, perdi noção do tempo, devo ter ficado me olhando no espelho por mais de meia hora, tomo um banho rápido, saio do banheiro e corro para meu quarto, molhando toda a sala. Pego meu terno e o visto, fico muito elegante nele, me cai muito bem. Apanho uma maletinha que estava guardada dentro do cofre, abro-a e analiso aquela arma, uma Mini Uzi negra, dois carregadores enormes, deviam caber mais de 30 balas em cada uma delas, essas balas de 9mm pontiagudas devem fazer muito estrago. Mesmo assim, ainda prefiro meu Colt Anaconda Magnum .44, cano longo, cromado, três janelas , um verdadeiro monstro, nunca me deixou na mão, mas o Alcides é o tipo inovador, e eu sigo o que ele manda, e mesmo meu Colt não daria conta do serviço que estava prestes a executar. Fecho a maleta, coloco meu Colt Sob o Paletó e saio. Não posso ir com o meu carro, precisarei roubar um, pegarei um ônibus até o Plano-Piloto e lá eu arrumo um. O ponto às sete horas aqui em Taguatinga está lotado, pouco provável que eu arrume alguma poltrona para me sentar. O ônibus que eu esperava chega, e parte da pequena multidão que se encontrava no ponto sobe junto comigo. As pessoas me olham estranho, não é comum um homem com os meus trajes pegando ônibus, no mínimo pensam que devem ter assaltado meu carro recentemente. Fico travado na roleta, não da mais para avançar, o ônibus ta abarrotado. Observo maravilhado algo que ocorre ao meu lado, uma criança, que não deve ter mais que dois anos, chora no colo da mãe quando esta afasta uma nota de dinheiro de perto dele, quando aproxima a nota ele se acalma. Fico imaginando o que ele fará quando crescer para conseguir o dinheiro que já cobiça ainda tão criança, com certeza irá usar métodos mais persuasivos do que apenas chorar.

Aos poucos o ônibus vai se esvaziando, arrumo uma poltrona vazia perto do fundo, bem atrás de mim um grupo de jovens com moletons e bonés com abas retas fazem algazarra e cantam Rap em voz alta, incomodam, mas ninguém reclama, medo talvez, mexer com a malandragem não traz lucro. Noto que eles cochicham e falam sobre mim, me irrito com isso, mas mantenho o controle, poderia fazer uma chacina ali se eu quisesse, mas não teria lucro algum com isso. Decido descer antes do meu ponto, para evitar maiores problemas. Pego um taxi para a Esplanada dos Ministérios, adoro aquele lugar, sinto imenso prazer em apreciar a arquitetura de Niemeyer, e imaginar J.K ali há mais de 50 anos dando vida a este lugar. Mas não posso me demorar, vou procurar por um carro que me apeteça por aqui mesmo. Em um estacionamento um casal discute calorosamente dentro de um Land Rover, me aproximo e aponto meu Colt. “Saiam do carro, não falem nada, e corram assim que saírem”. Eles obedecem, e sem maiores problemas tomo o volante e saio do estacionamento, sigo até o Eixo monumental, os alvos estão na asa sul, segundo o Alcides estarão os 5 em um posto de combustíveis na W3 Sul. Não demoro a chegar, o trânsito está fluindo bem hoje. Estaciono o carro e vou para a lanchonete da loja de conveniência, como Alcides me passou, os 5 estavam sentados na lanchonete e conversavam animadamente. Peço um suco de laranja á garçonete, me sento duas mesas de distância, coloco a maleta sobre a mesa, abro-a, sem eles perceberem, encaixo um carregador, destravo e me levanto, disparo contra o grupo, todos tentam fugir, mas caem logo em seguida, um deles consegue correr até a porta de saída, eu o atinjo nas costas. Vou a cada corpo e me certifico que estão mortos, a lanchonete, os funcionários do posto, todos sumiram ao ouvir os disparos. Vou embora em seguida, a polícia chegará em breve.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Desabafo

Era noite, e chovia bastante. Eu iria passar pelo meu recanto, meu lar, aquele lugar aonde eu quero ser enterrado. Mas a escuridão aliada á forte chuva, não me permitiu apreciar um dos símbolos de tanta paixão e encanto por aquele lugar. As serras. Ali, à beira da rodovia, entrando um pouco a mata, haviam belas serras. Suas riquezas em flora , fauna e água despertavam a cobiça do mundo inteiro. O Bioma Cerrado é o detentor de todas essas riquezas naturais invejáveis, apreciáveis, iningualáveis. Adentrando mais a mata, subindo por essas serras, poderíamos chegar ao Rio de Ondas. Fonte de riqueza, sobrevivência e lazer para povoados ribeirinhos, para donos de clubes, para toda uma população que ainda precisa aprender a amar esse rio de verdade. O rio é orgulho para toda população barreirense, suas belezas são mencionadas de norte a sul do Brasil, por qualquer visitante que tenha tido o prazer de banhar em suas águas. Infelizmente sei que tal orgulho não vem inerente ao senso de responsabilidade social coletivo. O rio é morto aos poucos, sendo lentamente torturado, por dejetos fecais, por lixo, esgoto, irrigação predatória. Crueldade não só com o rio, mas para com nosso filhos também! E quando não houver mais água? Já pensaram nisso?
Pensar nisso me assusta muito, vamos falar de outra coisa. Seguindo pela rodovia e já entrando no perímetro urbano eu sinto aquele choque emocional da saudade sendo saciada vorazmente. Eu disse: “ Não posso passar direto, preciso pelo menos ver o Cais da minha cidade!”. Que tristeza, que descaso, o que era aquilo que eu via? Por acaso não há serviço de limpeza pública na cidade? E os moradores? Não sabem que aqueles cestos espalhados em cada canto para onde se olha, serve justamente para se jogar o que eles insistem em jogar ao chão? Nem precisa ser um grande cientista social para saber que eles sabem, mas não ligam para isso. É problema da prefeitura, é o que devem dizer...
Haaa, o Rio Grande! Grande afluente da margem esquerda do Velho Chico. Rio maravilhoso, Nasce em São desidério, lá em meio à Serra geral do Goiás, e vem com todo o seu esplendor, brilhar ao longo de metade da Bahia. Toda região Depende direta ou indiretamente desse belo rio. Também é a fonte de sustento ao povo de boa parte do semi-árido baiano. Como o Nilo no Egito, transforma a terra seca e morta, em Terra fértil, terra que se planta qualquer coisa e ainda assim vinga com toda a força. "Preciso sentir aquela brisa fresca, que coisa boa, levantava de madrugada para poder sentir tal prazer!". E isso agora? O nosso Rio Grande Virou um Tietê do Oeste Baiano? Que maldito cheiro de esgoto, quanto lixo em suas margens, e cadê toda aquela água que corria por aqui? Agora se parece com um grande riacho!
Já sentiram aquela vontade enorme de chorar por está perdendo algo ou alguém que você amava muito? Foi o que eu senti. Não tive coragem de ver o resto da cidade, com certeza eu iria sentir mais dor, e não tenho vocação para masoquista. Fui embora do que era o meu recanto, para bem longe, e por mais triste que seja eu pensar assim, não desejo mais voltar por lá. A cidade dos meus sonhos não existia mais.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O ônibus do Além [trecho1/2]


Para assuntos formais era o Agnaldo Brito, para a família, Naldo, para os amigos, Naldinho. Esses últimos eram bem poucos, tinha somente dois amigos, se é que pode se chamar de amigo uma pessoa que só participa de sua vida em momentos nada agradáveis, passivamente e por vezes sofrendo junto. Os seus dois amigos nada mais eram que companheiros de Bullying, não como agressores, mas como vitimas. Tornaram-se amigos quando, após a agressão diária dos valentões, se juntavam para discutir pormenores da tortura física e mental, ora alegando que um apanhou mais que o outro, ora dizendo que tal palavrão dirigido à sua pessoa era novo, diferente, digno de ser anotado para averiguarem posteriormente o seu significado, não obstante, quando o dito palavrão fora proferido, o contexto desse a eles evidências o suficiente para deduzirem isso com larga facilidade. Em dias melhores chegavam a cogitar cinematográficas represálias, mas não passava disso, as batalhas épicas entre o reino do bem e do mal ficavam na imaginação.
Nesse dia Naldinho se privou do colóquio sobre o badalado assunto das agressões. Era um dia diferente, triste, seu tio falecera naquela madrugada, ao invés de ir á escola, iria para a casa do tio, que ficava do outro lado da cidade, pegaria duas conduções para chegar até lá. Pegou o primeiro e nem percebeu o tempo passar quando desceu na última parada, para esperar o próximo. Essa parada ficava a três quadras de seu colégio. Aguardava no ponto quando avistou dobrando a esquina seus três algozes, discretamente saiu caminhando, para tentar fugir de suas garras. Infelizmente o reconheceram, correram em sua direção e logo o alcançaram, a primeira coisa que fizeram ao segura-lo foi pegarem na parte de trás de sua calça e erguê-la até tirarem temporariamente seus pés do chão. Deram mais uns cascudos de boas vindas, uns puxões de cabelo e de orelha, esporadicamente acertavam um pontapé em seu traseiro. As ofensas vinham inerentes às pancadas. Naldinho se encolheu á um canto, perto de umas latas de lixo. Um dos agressores abriu o zíper e começou a urinar sobre sua cabeça enquanto os outros dois passavam mal de tanto rirem. Como já foi dito, esse era um dia diferente, além de triste, parecia também ser mágico, talvez não fosse nenhum nem outro para quem olhasse de fora, talvez fosse mesmo um dia normal, não se sabe, questão de pura perspectiva, mas para Naldinho era sim um dia diferente. O mijador não esperava, o mijado não esperava menos ainda, tudo ocorreu em frações de segundos, numa explosão de fúria Naldinho se levantou tão rápido quanto uma bala e atingiu em cheio com sua cabeça as partes do seu torturador. O jovem atingido caiu ao chão se retorcendo de dor, surpresos e ao mesmo tempo irados com a reação, os outros dois partiram para cima, encheram naldinho de socos e pontapés, e jogaram-no tonto dentro de uma das latas de lixo que estavam próximas. Ajudaram o comparsa a se recompor e saíram em disparada. Ficou ali dentro da lata de lixo não se sabe por quanto tempo, não estava mais tonto, talvez nem sentisse mais as dores pelo corpo, seu olhar estava vidrado no espaço vazio, muito introspectivo. Estava alheio aos olhares e comentários das pessoas que passavam e o viam naquela situação, estava alheio à tudo. Uma senhora idosa veio em seu auxílio.
- Menino de Deus, que fizeram com você? Coitadinho, eu vi tudo, aqueles monstros – a senhora estava bem de frente á ele, mas o jovem permaneceu em silêncio, o olhar perdido em qualquer direção no vazio. – Anda menino, acorda, saí daí, anda, eu te ajudo, vem.
A senhora puxava-lhe pelo braço com força, ele não respondia, ela insistiu e só aí ele despertou do transe.
- Hã?! Que? Há, é, vou sair sim, já tou saindo, brigado.
- Você ta bem menino? Eu vi, eles bateram muito em você não foi?
- Tou, tou sim – Respondeu tentando mostrar ânimo na voz. – Nem foi tanto assim, eu ia começar a tomar conta da situação quando eles correram.
- É verdade, eu vi eles correndo, você tava armado?
- Não, não, mas sei lutar bem – Uma mentirinha de nada é válida, quando esta vem para consolá-lo. – Escuta, por acaso sabe dizer se o ônibus da W3 NORTE já passou? Eu me distraí e não vi os ônibus que passavam.
- Há, sim, passou uns minutinhos antes deu vir aqui falar com você – A senhora dava umas palmadinhas em algumas partes da roupa de Naldinho, que estava sujo de poeira. – Mas, espere mais um pouco, que todo dia à essa hora passa um ônibus desses piratas que vai pra lá, e a passagem é a metade do preço.
- Metade? Sério?
-Sério, é um branco que está caindo aos pedaços, mas que agüenta chegar ao destino, pelo menos nunca ninguém reclamou. Olha lá ele vindo.
Um ônibus de um branco desbotado, realmente acabado, vinha se aproximando. Naldinho correu até o ponto e acenou e o ônibus parou. A porta se abriu, fez menção para entrar, voltou e procurou pela senhora para agradecer pela ajuda, mas ela não estava mais lá, foi embora antes. Subiu o primeiro degrau e estacou, aquele ônibus era muito estranho, um cheiro acre o deixou levemente tonto. Olhou para o motorista como que querendo mostrar sua estranheza. O motorista era um senhor idoso, barbudo, usava um óculos de aros redondos e lentes escuras, tinha um olhar terno, acalentador, exalava simpatia. Naldinho imaginou ele com um gorro e roupas vermelhas, seria um perfeito Papai Noel. O Motorista ficou olhando-o ali parado nos degraus de entrada e disse:
- Vamos, entre meu jovem. Ou por acaso pensa em ficar aí o dia inteiro?
- Foi mal, desculpa. Tou entrando.
Subiu os últimos dois degraus, a porta se fechou e o ônibus entrou em movimento. Desiquilibrou-se e segurou em uma barra para não cair. Olhou para o interior do veículo, teve uma enorme vontade de rir. Muito estranhos aqueles passageiros, como tudo o mais naquele ônibus. Estavam todos sentados da mesma forma, costas bem eretas, mãos nas coxas e olhar fixo para o piso. Era realmente algo cômico. Procurou por um lugar para se sentar, haviam três poltronas vazias, escolheu uma que ficava no fundo. Um senhor ocupava a poltrona do lado, que dava para a janela e, como todos os outros, estava sentado com as costas eretas, mãos nas coxas, olhar para baixo. Ao sentar-se, achou de boa educação ficar na mesma posição que todos os outros.
As quadras iam passando e o ônibus não parava para pegar passageiros. O cheiro ruim desaparecera, talvez tivesse habituado o seu olfato. Não estranhou quando o Veículo entrou em uma estrada vicinal, ele era pirata, devia ser uma forma de burlar a fiscalização. A estrada estava completamente deserta, ao longe se avistava os prédios e a fumaça da cidade. Um tremor forte balançou violentamente o ônibus, pensou que tivesse furado ou pneu, ou atropelado algum animal, quando tudo ficou escuro. Um homem que fumava á beira da estrada sob uma árvore, sentiu um forte tremor, viu um buraco enorme se abrir no chão e um ônibus entrar por ele.
- Minha Nossa Senhora! Dequinho não tava de brincadeira quando disse que essa era da boa.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O sedutor. Trecho 2/2.

Com a experiência prática e conhecimento teórico do comportamento humano adquiridos em anos, eu pude montar certos conceitos, programas de ação muito efetivos, ou melhor, infalíveis, a que mais me apetecia por sua eficiência é a receita de bolo da sedução: Pegue sua atitude, sua confiança e desenvoltura, salpique tensão sexual e jogue tudo no seu alvo, para finalizar, cubra com conforto. Tcharam! Depois é só saborear. Eu voltei, escutei-a e elucidei a questão da titica, dizendo que não era algo físico, que era algo simbólico, para minha decepção ela tinha mesmo titica na cabeça e não compreendeu minha metáfora, devia ser mesmo muito burra, felizmente sua bunda e o pacote externo em geral compensava o investimento. Salientei em alfinetadas brandas no decorrer de nosso colóquio, a sua deficiência intelectual . O objetivo era fazê-la, instintivamente, se valorizar para mim, buscar minha aprovação. Para força-la a focar mais nesse objetivo, dirigi toda minha atenção às outras duas garotas. Ambas eram morenas, o meu alvo contrastava em seu loiro exuberante. Com uma leve alfinetada dirigida à loira eu as conquistei:
- Ei! Vocês duas que tão aí caladinhas, com certeza estão recebendo algo para andar com ela, eu só andaria com alguém que tem titica na cabeça se eu estivesse recebendo por isso.
Elas riram como era de se esperar, gostaram da piada que desvalorizava a amiga. Com uma leitura fria feita bem superficialmente eu pude apurar informações mais que suficientes para atrair a simpatia delas e despertar a competição que estava latente naquele trio. O padrão era simples, eu me encontrava com um trio de adversárias sociais, amicíssimas e adversárias. As duas morenas invejavam a beleza e o excesso de cantadas que a loira recebia com mais frequência que elas. Elas estavam gostando da rotina estar sendo alterada, delas serem o centro das atenções e da loira está sendo rebaixada à antiga posição social delas. Mas ainda à espelhavam, a seguiam inconscientemente, quando a loira mexia nos cabelos, as outras duas repetiam movimento, por instinto, quando a loira movimentava um dos pés, elas naturalmente repetiam esse movimento, um movimento do braço, uma careta, cheguei a imaginar que a frequência de piscadelas deviam ser as mesmas. Sinais claros de muita confiança e ligação entre elas. Apesar da competição interna. À essa altura do meu jogo, as três brigavam pela minha atenção.
- Nossa! Você não existe, me diz seu nome, por favor?!
Até o momento eu não havia dito o meu nome, disse qual era, não precisei perguntar o delas, me falaram todas ao mesmo tempo, Ainda hoje quando me recordo desse episódio não consigo relacionar os nomes às pessoas. Para aumentar a confiança delas em mim, comecei também a espelha-las, repetia discretamente movimentos simples e naturais delas, especialmente do meu alvo. Batendo no chão, com um dos pés, eu acompanhava a frequência das batidas dos dedos que a loira dava em sua coxa. Direcionei a conversa para assuntos que me interessavam, que poderiam me ajudar. Falamos de objetivos futuros, de relações antigas, de festas inesquecíveis, de aventuras sexuais e até supostos fetiches e fantasias que nós poderíamos ter. Em momentos oportunos, enquanto uma ou outra contava uma estória da vida delas, dentro desses temas que eu falei, eu as tocava em pontos estratégicos. Em determinado ponto tocado eu poderia tocar novamente posteriormente e despertar pensamentos e sensações diversas. Como fazê-las pensar no futuro e eu estar ali nesse futuro com elas, ou despertar parte da euforia que elas sentiram no magnífico Carnaval baiano e sentirem a necessidade de compartilhar essa emoção comigo, ou até sensações e pensamentos sexuais perversos. O meu jogo estava no fim, eu poderia isolar e ficar com qualquer uma das três, tamanha a confiança e atração que estavam sentindo por mim. Mas não faria isso, talvez assustasse o Rui, faria o que foi combinado, elas pediriam meu contato. De forma inesperada eu me despedi, alegando que me atrasaria para um compromisso, elas ficaram desapontadas, não queriam que eu fosse embora.
- Lúcio! Peraí moh – Eu não cheguei a me afastar muito, era a loira quem me chamava, correu em minha direção e tirou um aparelho celular do bolso. - Me dá seu número, é que eu vou embora amanhã.
Fiquei extasiado intimamente, obtive sucesso total, e ainda recebi um convite para comê-la implícito no : “ É que eu vou embora amanhã”. Dei o meu número, um beijo no rosto e comecei a caminhar novamente para ir embora, dessa vez de verdade.
- Lúcio, calma aí, deixa eu tirar uma foto com você? Pra por no orkut!
Ela enlaçou meu pescoço, encostou seu rosto no meu, com o celular acima de nossas faces ela capturou nossa imagem, ainda comentei que cobraria uma taxa pela divulgação da minha foto. Comecei a me desvencilhar, imaginei que ela fosse tirar outra foto quando não abaixou o braço, para acompanhar meu movimento de separação, apertou com mais força, com as costas das mãos que segurava o celular, ela virou meu rosto e me beijou na boca, surpreso, não nego, eu correspondi. O beijo foi longo, quente, se não estivessemos em praça pública ela tentaria me violentar. O Rui deveria está arrancando os cabelos nesse momento. Após terminamos ela ainda comentou:
- Eu vou te ligar, sem falta! – Não respondi, meu pensamento estava longe, fui me encontrar com o Rui.

sábado, 19 de junho de 2010

O sedutor. Trecho 1/2.

- Você trouxe o gravador?
Perguntei ao rapaz que acabara de chegar de mocicleta. Seu nome, Rui, o Rui tivera somente uma namorada em 25 anos de uma vida infeliz, sem amor próprio, sem respeito próprio, uma vida sem sentido. O rapaz não sabia sequer o que era sexo, é capaz de ter levado mais chifres da primeira e única namorada do que a quantidade de vezes que pensou em apertar a bunda dela. Não era feio, teria tido sucesso com as mulheres se tivesse agido de forma diferente durante sua vida, talvez se não fosse tão inseguro.
- Trouxe sim – Ele me respondeu quase gaguejando, hesitante, me olhava e eu sentia que em sua imaginação ele me via como a própria personificação de Dionísio, senhor dos bacanais na mitologia grega, esse Dionísio era dos meus. – Mas... mas, não entendo ainda pra que você quer um gravador.
- Você vai entender irmão, tenha calma - Olhava-o e sentia que visualizava uma foto mal tirada, toda tremida, reflexo de seu nervosismo talvez. – Vê aquelas garotas ali naquele banco? Olha disfarçadamente, não aponta o dedo seu individúo, são as que estão debaixo da árvore.
- Vi, vi sim... não, quer dizer, tou vendo, aquelas três no banco verde não é?
Rui me procurara há quase dois meses, me abordou enquanto eu vegetava no gramado da praça, ele provavelmente escolheu me abordar quando a praça estivesse deserta, erámos só nós dois, conhecendo-o melhor, eu pude calcular o quanto épico foi a sua tentativa de abordagem. Ele estava nervoso, pensei logo que seria assaltado, olhos fundos e com olheiras, muito magro, abatido, deduzi de antemão que fosse um viciado em crack. Me enganei, não fui assaltado e ele não era viciado em crack, era só um acabado emocionalmente. Me chamou pelo nome em um tom receoso: “ Lúcio...” Olhei-o surpreso, disse que tinha uma proposta para me fazer, fiquei curioso. Convidei-o a irmos em uma lanchonete próxima, estimulei-o a se abrir, acho que estimulei demais, foram mais de três horas de lamentações, escutei com real interesse. Soube o quanto a vida dele era uma desgraça, soube que ainda amava a namorada que engravidara de outro enquanto ainda namoravam. Ele falou sobre tudo que podia ser falado, mas nada sobre a proposta. Foi preciso mais 1h para confortá-lo, e assim ele falou: “ Eu quero que me torne pelo menos a metade do homem que você é”. Me explicou que vinha me observando há algum tempo, disse que venerava o meu estilo de vida, observou que eu interagia todos os dias com alguma garota diferente, tava sempre acompanhado, Disse que eu devia seguir algum padrão pré definido, e que era nesse padrão que ele queria ser treinado. Deduziu isso após presenciar diversas abordagens que fiz com mulheres que eu não conhecia, nas ruas, e como sempre me via ficando e provavelmente indo para cama com elas após no máximo dois dias. Fiquei desconfiado, e sinceramente amendrontado, Rui havia me seguido, observado e analisado minhas atitudes, sabia de cada passo meu, ele devia ser algum tipo de psicopata, mas não, psicopata nenhum fica acabado emocionalmente, isso me aliviou. Ele era só um desesperado, me condoí com todo o seu relato e aceitei o encargo.
- Então irmão, você já dominou o básico de toda teoria necessária para partir para a prática.
- Hoje? Com aquelas garotas? – O medo era evidente em seu rosto, em sua voz, já estava afeiçoado ao Rui, e isso me deixava profundamente triste.
- Sim, hoje! Mas quem vai nelas sou eu, você vai depois em outras, tenha calma, já disse, não se abale e segura a merda dessa ansiedade – Falei com firmeza, queria que ele se preparasse para a parte mais dura de sua formação. – Use algumas daquelas técnicas de PNL para relaxar.
- Tá, tá bom.
- Vou lhe dizer agora para que o gravador – Olhava-o nos olhos, sentia sua ansiedade como a exalar pelos poros, se eu pudesse transferir coragem somente olhando nos olhos dele seria ótimo, puta merda! Ando viajando muito, os personagens da Queda de Atlântida de Marion Zimmer afetaram a minha lucidez. – Aquelas garotas, não as conheço, vou abordá-las, e fazer com que elas peguem o meu contato, elas vão me pedir por isso. Vou levar o gravador comigo, ligarei e agirei. Você ficará naquele banco com essa câmera e filmará toda a ação, entendeu o que eu te falei? O por que de tudo isso?
- Não sei, acho que tou, não se importe com a minha burrice, mas repete para eu entender melhor – O rui tinha disso, ele não era burro coisa nenhuma, mas gostava de fazer eu repetir as coisas, talvez para ter certeza do que escutou, ou esperando que eu fosse mais específico.
- É simples Rui, Com a câmera você filmará tudo o que eu fizer, com o gravador eu gravarei tudo o que eu falar, depois sentaremos e discutiremos tudo o que foi filmado e gravado, depois eu escolherei um grupo qualquer para você abrir e conseguir algum contato, não vai ser preciso deixar que elas peçam, você pode pedir, e depois iremos nós dois juntos, ora eu vou te apoiar, ora você vai me apoiar.
- Tem algo que não tou entendendo...
- Hã?! Já ta forçando, não posso ser mais claro que isso.
- Não, desculpa, eu não tinha entendido ainda, agora entendi.
- Entendeu? Entendeu mesmo? Vou tentar ser mais claro. Com o áudio você poderá analisar qual tom de voz eu usarei, o que eu usei para abordar, a reação delas, a respostas delas, enfim, toda o desenrolar do jogo. Com o vídeo você poderá analisar minha linguagem corporal e a delas, postura, expressão facial, gesticulação das mãos, movimentos leves com a cabeça e com o corpo. Cada reação delas será um sinal que indicará qual o próximo passo, veremos isso mais tarde, agora vou lá que elas podem ir embora.
Rui me pagava bem, no começo eu cobrava mesmo, me aproveitava da situação, depois, com o passar das semanas e com o aumento de nossa intimidade, eu não cobrei mais, ensinava por prazer. Mas mesmo assim, sempre que tirava um extrato o dinheiro tava lá na minha conta. Pedi para ele parar de fazer isso, Rui replicou: “ Não, não. Te pagando o teu estímulo para me treinar será maior, e o meu de aprender maior ainda, por que eu não tou doido a ponto de jogar dinheiro fora”. Não fiz objeção, o argumento era irrefutável, e mostrava que ele estava mesmo aprendendo, estimular pontos essenciais deixam o alvo da sedução mais vulnerável. Nos encontramos muito nessas últimas 8 semanas, passei tudo o que podia e que era de fácil compreensão na teoria, para iniciar a parte prática, com o tempo ele se aprofundaria mais nos mistérios das artes venusianas. Eu iria abordar e criar atração suficiente para elas pedirem o meu contato. Fiquei indeciso por uns instantes sobre qual forma agir, podia agir de forma direta, mas isso não seria bom ao Rui, é mais complicado, exige mais controle emocional, podia agir de forma indireta, isso era confuso, a tempos que não usava um estilo determinado, a forma natural, ou jogo natural me dominou, e optei por agir assim, depois eu explicaria tudo o que eu fiz passo a passo a ele. A abordagem não é algo complicado quando não se tem vergonha na cara, isso adianta um bom pedaço para a sedução. Olhei ao redor da praça, ao meu redor, ao redor das garotas, procurava uma frase de abertura situacional, nada padronizado, seria natural. Como um relâmpago uma idéia me acometeu, elas estavam sob uma árvore grande, lá no alto da copa dessa árvore muitos passáros cantavam. Passei lentamente por elas, sou atraente, bem apanhado, elas me notaram, mantive contato visual para criar uma tensão nelas, depois eu confortaria com o correr do jogo. Foquei na mais bonita delas, frisei a testa como que estranhando algo, me detive alguns metros após os banco e voltei.
- Ou guria, não te conheço não, mas como sou um cara solidário vou te livrar de pagar um mico dos bons, é que tem titica de passarinho na sua cabeça, vai ficar uma meleca só se não limpar.
Sorri amigavelmente para as outras duas, me despedi com um aceno e sai. Sabia que ela mexeria nos cabelos á procura da titica, pediria ajuda ás amigas, constataria que não tinha nada, ficaria irritada, confusa, interessada em saber por que disse aquilo, muitos sentimentos conflitantes. Bingo!
- Ei! Ei, você moço, peraí – Ela estava em pé acenando feito louca com os braços e me chamando. Voltei atrás, a abertura provocou a reação que eu queria, ela que buscou pelo contato, a atração está em sua fase inicial e partiu dela como eu queria.
Posto a outra parte nos próximos dias...