Quem sou eu

Sou um cara que ama a vida e tudo que ela tem a oferecer. Praticante de esportes de aventura, apaixonado por todo tipo de esporte que trabalhe a mente e o corpo de forma una e eletrizante. Degustem á vontade!

sábado, 16 de abril de 2011

Há um Porquê?

Olá, eu sou o Andrei, aonde estou não tem um nome, mas isso não importa, vou lhes contar minha história, de como tudo começou até eu vir parar aqui...

Eu era apenas uma criança de seus cinco anos de idade, vê meu pai ali caido no chão da sala, ensopado de suor e apertando o peito com um olhar de sofrimento e suplica foi apavorante, a memória se desvanece, e volta com a imagem de um pequeno grupo de pessoas entrando em casa, carregando-o e depositando-o no banco de trás de um carro para em seguida saírem a toda velocidade, minha mãe vai atrás, chorando muito. Aquele tinha sido o segundo infarto que meu pai havia sofrido, ficou internado alguns meses em Brasília e voltou forte como um touro, contudo tornou-se tão violento quanto um touro de rodeio. Meu pai era um homem grande, olhos verdes claros e um cabelo escuro curto. Era pintor de parede e dispensava todo o dinheiro adquirido em seu trabalho nos botecos do bairro em que morávamos. Descarregava em minha mãe, e às vezes em nós quatro, eu, minha irmã mais velha, meu irmão, “o terceiro”, e a caçula de seus poucos meses de idade, um ódio incompreensível, como se só por existirmos fôssemos culpados por toda as suas frustrações.

Não gosto de histórias tristes, o mundo "ta" cheio delas, tenho que fazer de forma diferente, fazê-la parecer excitante ao invés de sofredora. Não é uma tarefa tão difícil quando me lembro dos amigos que eu tive naquele beco localizado em uma área movimentada da cidade, éramos alegres, e quando brincávamos de pique-esconde tudo que era de ruim parecia deixar de existir. Não continuei morando lá por muito tempo, quase dois anos depois do segundo infarto do meu pai, veio o terceiro, ainda não entendia do que se tratava, mas sabia que era algo muito ruim, pois todas as pessoas da rua estavam em casa, algumas choravam, outras discutiam baixinho, minha mãe sentada no sofá fixava um ponto qualquer na parede encardida e projetava sua mente para os confins do universo, aonde meu pai talvez pudesse se recuperar. Minha mãe era uma mulher baixinha, cabelos escuros que caiam em seus ombros e escorriam até o meio de suas costas, muito bonita, também muito apaixonada pelo homem que estava em algum lugar sem saber que estava entre a vida e a morte, só dormia enquanto as máquinas faziam o possível para mantê-lo do lado de cá do mundo.

Um terceiro infarto parece até mentira, ele realmente era forte como um touro, sobreviveu a mais esse, porém ficou muito mais tempo internado, agora em Salvador. Período tenso, cada um dos meus irmãos seguiram para um lado diferente, eu segui com minha mãe para salvador para acompanhar a recuperação do meu pai, minha irmã mais velha e a mais nova já com 2 anos de idade seguiram para a casa da minha avó, o outro irmão, “o terceiro”, foi morar com um tio nosso numa fazenda da família. Não foi tão ruim assim, eu não entendia nada mesmo que estava acontecendo, iria até a faixa de gaza em dia de enfrentamento intenso se me levassem. Em Salvador Conheci o elevador Lacerda, a praia da Barra e a da Pituba, aonde uma onda me pegou de jeito, me fazendo descobrir o por que que a água do mar não pode ser bebida.

Meu pai estava proibido de fumar, beber, ingerir qualquer tipo de droga, comer coisas gordurosas, coisas açucaradas e mais uma infinidade de proibições e restrições. Essas coisas foram impostas a ele quando ainda estava no leito hospital, mas toda vez que minha mãe me levava ao hospital para visitá-lo, ela saia para conversar com médico sobre a situação do infartado, e eu ficava lá do lado da cama vendo-o pegar um cigarro sob o colchão, acendê-lo e soltar generosas baforadas em meu rosto, indiferente ao incômodo que eu expressava ao fechar a cara e tentar afastar a fumaça com as mãos.

A estada na capital baiana durou seis meses, além das praias e do elevador eu conheci as histórias da turma da Mônica e o Super Mario, o triangulo amoroso perdura até os dias de hoje.

Passaram-se vários anos, me tornei um jovem presunçoso e em alguns pontos arrogante como o pai, auto-crítica é um forte meu, tenho que admitir que isso é uma merda. Não possuía relação alguma com meu pai nesses tempos agitados, e tudo que havia em mim que diziam ser uma herança dele, eu tentava evitar, a forma como eu andava, como eu falava, com me comportava com as mulheres, entre outras características menos nobres que não valem apena serem mencionadas.

Em uma chuvosa tarde de quinta, recebi uma mensagem que surpreendentemente me abalou mais do que eu esperava. Sobreveio o quarto infarto ao meu genitor, mas desse ele não conseguiu escapar, a morte ceifou sua vida depois de muita insistência. Felizmente o choque inicial foi somente o choque inicial, logo vi que não fazia diferença se ele estava vivo ou não, não nos falávamos mais, e isso provavelmente não viria mais ocorrer mesmo ele estando vivo. Realizou-se seu enterro uns dois dias depois do seu falecimento, nesse dia eu estava no planalto central curtindo um baile funk como se nada tivesse acontecido.

Em uma madrugada então acordei de um sonho estranho do qual mais tarde não consegui me lembrar dos detalhes, uma súbita vontade de tentar entender o porquê de certas coisas da vida tomou conta de minha mente, quase como uma obsessão, talvez uma viagem ao Tibet para uma reflexão mais profunda me ajudasse, como a Ásia estava longe demais para se ir de moto, resolvi explorar meu território nacional... Dispensei tudo que não me seria útil numa aventura como essa. Somente uma bolsa cargueira com algumas roupas e artigos de necessidades básicas, um jeans e uma camisa qualquer no corpo mais a moto me levariam do Monte Caburaí ao Chuí, da nascente do Rio Moa ao Ponta do Seixas, me levaria pela transamazônica, ás dunas no Maranhão, ao Pico da Neblina no Amazonas , á nascente do São Francisco em Minas Gerais, ao Jalapão no Tocantins, á chapada dos Veadeiros no Goiás, ao Répteis do Pantanal, às Cataratas do Iguaçu, ao show do Capital Inicial em São Paulo...

As coisas não têm um por que, foi a conclusão a qual cheguei depois de muito tempo na estrada, se tem, eu teria que passar várias gerações refletindo, ainda assim eu creio que não conseguiria um porquê plausível. O amor e o ódio, a alegria de uns a tristeza de outros, a boa vida social de uns e a solidão de outros, a riqueza e pobreza, a popularidade escolar e o tal Bullyng, a traição e a fidelidade, a fé e a descrença, a vida e a morte.

Como um robô de Asimov que entrou em pane por não conseguir processar as informações contraditórias que lhe foram impostas, eu me desliguei de tudo, a moto a mais de 140 km/h rasgava a rodovia, os óculos escuros não permitiriam que sondassem meu olhar caso tivesse alguém por ali, mas se pudessem ver meus olhos, veriam um olhar distante, um sorriso no rosto, como de alguém que se sente a pessoa mais livre do mundo e nada mais importa. A estrada traçou repentinamente uma curva que se mostrou bem fechada, sem me dar conta, passei em uma falha da proteção de metal para alçar vôo por sobre um penhasco como um caça de guerra que estivesse saindo de um porta-aviões. Aquele era o fim de uma busca utópica e solitária pela verdade.

No laudo pericial do acidente constava o depoimento de um homem que na ocasião banhava em um riacho que corria logo mais embaixo do penhasco, dizia que viu uma moto com um homem sobre ela a cruzar os ares por uns breves segundos como uma estrela cadente motorizada singrando os céus, então o sol ofuscou sua visão por um momento, ao acostumar a visão novamente ele viu que a moto descia em velocidade vertiginosa em direção ás rochas, mas o homem não estava mais lá, havia desaparecido com que por mágica. A polícia nunca conseguiu achar nenhum corpo pelas redondezas.