Quem sou eu

Sou um cara que ama a vida e tudo que ela tem a oferecer. Praticante de esportes de aventura, apaixonado por todo tipo de esporte que trabalhe a mente e o corpo de forma una e eletrizante. Degustem á vontade!

sábado, 16 de abril de 2011

Há um Porquê?

Olá, eu sou o Andrei, aonde estou não tem um nome, mas isso não importa, vou lhes contar minha história, de como tudo começou até eu vir parar aqui...

Eu era apenas uma criança de seus cinco anos de idade, vê meu pai ali caido no chão da sala, ensopado de suor e apertando o peito com um olhar de sofrimento e suplica foi apavorante, a memória se desvanece, e volta com a imagem de um pequeno grupo de pessoas entrando em casa, carregando-o e depositando-o no banco de trás de um carro para em seguida saírem a toda velocidade, minha mãe vai atrás, chorando muito. Aquele tinha sido o segundo infarto que meu pai havia sofrido, ficou internado alguns meses em Brasília e voltou forte como um touro, contudo tornou-se tão violento quanto um touro de rodeio. Meu pai era um homem grande, olhos verdes claros e um cabelo escuro curto. Era pintor de parede e dispensava todo o dinheiro adquirido em seu trabalho nos botecos do bairro em que morávamos. Descarregava em minha mãe, e às vezes em nós quatro, eu, minha irmã mais velha, meu irmão, “o terceiro”, e a caçula de seus poucos meses de idade, um ódio incompreensível, como se só por existirmos fôssemos culpados por toda as suas frustrações.

Não gosto de histórias tristes, o mundo "ta" cheio delas, tenho que fazer de forma diferente, fazê-la parecer excitante ao invés de sofredora. Não é uma tarefa tão difícil quando me lembro dos amigos que eu tive naquele beco localizado em uma área movimentada da cidade, éramos alegres, e quando brincávamos de pique-esconde tudo que era de ruim parecia deixar de existir. Não continuei morando lá por muito tempo, quase dois anos depois do segundo infarto do meu pai, veio o terceiro, ainda não entendia do que se tratava, mas sabia que era algo muito ruim, pois todas as pessoas da rua estavam em casa, algumas choravam, outras discutiam baixinho, minha mãe sentada no sofá fixava um ponto qualquer na parede encardida e projetava sua mente para os confins do universo, aonde meu pai talvez pudesse se recuperar. Minha mãe era uma mulher baixinha, cabelos escuros que caiam em seus ombros e escorriam até o meio de suas costas, muito bonita, também muito apaixonada pelo homem que estava em algum lugar sem saber que estava entre a vida e a morte, só dormia enquanto as máquinas faziam o possível para mantê-lo do lado de cá do mundo.

Um terceiro infarto parece até mentira, ele realmente era forte como um touro, sobreviveu a mais esse, porém ficou muito mais tempo internado, agora em Salvador. Período tenso, cada um dos meus irmãos seguiram para um lado diferente, eu segui com minha mãe para salvador para acompanhar a recuperação do meu pai, minha irmã mais velha e a mais nova já com 2 anos de idade seguiram para a casa da minha avó, o outro irmão, “o terceiro”, foi morar com um tio nosso numa fazenda da família. Não foi tão ruim assim, eu não entendia nada mesmo que estava acontecendo, iria até a faixa de gaza em dia de enfrentamento intenso se me levassem. Em Salvador Conheci o elevador Lacerda, a praia da Barra e a da Pituba, aonde uma onda me pegou de jeito, me fazendo descobrir o por que que a água do mar não pode ser bebida.

Meu pai estava proibido de fumar, beber, ingerir qualquer tipo de droga, comer coisas gordurosas, coisas açucaradas e mais uma infinidade de proibições e restrições. Essas coisas foram impostas a ele quando ainda estava no leito hospital, mas toda vez que minha mãe me levava ao hospital para visitá-lo, ela saia para conversar com médico sobre a situação do infartado, e eu ficava lá do lado da cama vendo-o pegar um cigarro sob o colchão, acendê-lo e soltar generosas baforadas em meu rosto, indiferente ao incômodo que eu expressava ao fechar a cara e tentar afastar a fumaça com as mãos.

A estada na capital baiana durou seis meses, além das praias e do elevador eu conheci as histórias da turma da Mônica e o Super Mario, o triangulo amoroso perdura até os dias de hoje.

Passaram-se vários anos, me tornei um jovem presunçoso e em alguns pontos arrogante como o pai, auto-crítica é um forte meu, tenho que admitir que isso é uma merda. Não possuía relação alguma com meu pai nesses tempos agitados, e tudo que havia em mim que diziam ser uma herança dele, eu tentava evitar, a forma como eu andava, como eu falava, com me comportava com as mulheres, entre outras características menos nobres que não valem apena serem mencionadas.

Em uma chuvosa tarde de quinta, recebi uma mensagem que surpreendentemente me abalou mais do que eu esperava. Sobreveio o quarto infarto ao meu genitor, mas desse ele não conseguiu escapar, a morte ceifou sua vida depois de muita insistência. Felizmente o choque inicial foi somente o choque inicial, logo vi que não fazia diferença se ele estava vivo ou não, não nos falávamos mais, e isso provavelmente não viria mais ocorrer mesmo ele estando vivo. Realizou-se seu enterro uns dois dias depois do seu falecimento, nesse dia eu estava no planalto central curtindo um baile funk como se nada tivesse acontecido.

Em uma madrugada então acordei de um sonho estranho do qual mais tarde não consegui me lembrar dos detalhes, uma súbita vontade de tentar entender o porquê de certas coisas da vida tomou conta de minha mente, quase como uma obsessão, talvez uma viagem ao Tibet para uma reflexão mais profunda me ajudasse, como a Ásia estava longe demais para se ir de moto, resolvi explorar meu território nacional... Dispensei tudo que não me seria útil numa aventura como essa. Somente uma bolsa cargueira com algumas roupas e artigos de necessidades básicas, um jeans e uma camisa qualquer no corpo mais a moto me levariam do Monte Caburaí ao Chuí, da nascente do Rio Moa ao Ponta do Seixas, me levaria pela transamazônica, ás dunas no Maranhão, ao Pico da Neblina no Amazonas , á nascente do São Francisco em Minas Gerais, ao Jalapão no Tocantins, á chapada dos Veadeiros no Goiás, ao Répteis do Pantanal, às Cataratas do Iguaçu, ao show do Capital Inicial em São Paulo...

As coisas não têm um por que, foi a conclusão a qual cheguei depois de muito tempo na estrada, se tem, eu teria que passar várias gerações refletindo, ainda assim eu creio que não conseguiria um porquê plausível. O amor e o ódio, a alegria de uns a tristeza de outros, a boa vida social de uns e a solidão de outros, a riqueza e pobreza, a popularidade escolar e o tal Bullyng, a traição e a fidelidade, a fé e a descrença, a vida e a morte.

Como um robô de Asimov que entrou em pane por não conseguir processar as informações contraditórias que lhe foram impostas, eu me desliguei de tudo, a moto a mais de 140 km/h rasgava a rodovia, os óculos escuros não permitiriam que sondassem meu olhar caso tivesse alguém por ali, mas se pudessem ver meus olhos, veriam um olhar distante, um sorriso no rosto, como de alguém que se sente a pessoa mais livre do mundo e nada mais importa. A estrada traçou repentinamente uma curva que se mostrou bem fechada, sem me dar conta, passei em uma falha da proteção de metal para alçar vôo por sobre um penhasco como um caça de guerra que estivesse saindo de um porta-aviões. Aquele era o fim de uma busca utópica e solitária pela verdade.

No laudo pericial do acidente constava o depoimento de um homem que na ocasião banhava em um riacho que corria logo mais embaixo do penhasco, dizia que viu uma moto com um homem sobre ela a cruzar os ares por uns breves segundos como uma estrela cadente motorizada singrando os céus, então o sol ofuscou sua visão por um momento, ao acostumar a visão novamente ele viu que a moto descia em velocidade vertiginosa em direção ás rochas, mas o homem não estava mais lá, havia desaparecido com que por mágica. A polícia nunca conseguiu achar nenhum corpo pelas redondezas.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Do lado de lá...

- Ei guri, guri! Acorda, ei acorda, anda – um menino todo coberto por um lençol grosso e sujo sacudia e cutucava uma pessoa que estava deitada sobre um monte de lixo. – Que sono pesado esse seu hein? Melhor você acordar, aqui não é um lugar bom pra ficar.

Com bastante dificuldade a pessoa que estava sendo acordada pelo menino tenta se levantar, mas mal consegue se sentar. Seu rosto estava repleto de escoriações, um dos olhos não abria devido a um inchaço roxo, provavelmente provocado por um soco. Suas roupas criavam um contraste gritante com o ambiente ao redor, ao invés de uma calça, moletom sujo e em frangalhos como a maioria das pessoas que estavam deitados naquele beco estavam usando, ele trajava um jeans limpo e bonito, uma jaqueta de couro e sob a jaqueta uma blusa branca, em seus pés um par de tênis branco, impecável. O pequeno morador do beco ainda tentava despertá-lo.

- Anda moço, acorda. Tavam lhe olhando estranho e lhe cutucando agora pouco, se não fosse eu, tinham levado até suas cuecas, olha lá – Disse apontando na direção de três meninos que corriam para bem longe dali.*

O rapaz se apoio em uma lata de lixo e conseguiu se sentar, olhou ao redor confuso, sua cabeça latejava, o corpo todo reclamava de dores, olhou para o menino e finalmente falou algo.

- Quer lugar é esse?

- Esse lugar é onde eu e aquelas outras pessoas moram – Respondeu apontado para algumas pessoas que estavam deitadas espalhadas pelo beco, todas cobertas por lençóis e papelão. – Aqueles meninos que tavam mexendo com você são do beco que fica do outro lado da avenida, não gosto deles. E você? O que aconteceu pra ta tão machucado assim? Parece q lhe deram uma bela duma “peia” viu!

- Eu não sei, não consigo me lembrar de nada. Ai! – Sentiu uma pontada na nuca e instintivamente levou a mão para o local, sua mão se ensopou de sangue.

-Caramba, deixa eu ver isso – O menino do beco subiu no monte de lixo e olhou para a nuca do rapaz machucado, fazendo uma cara de assombro. – Nossa! Isso aqui ta feio viu, melhor ir no hospital.

-Qual é o seu nome?

-Tatá, muito prazer! – Respondeu estendendo a mão.

-Muito bem tatá – Respondeu o outro ignorando a mão estendida. – Não lhe digo meu nome por que não tenho a menor idéia de qual seja, poderia me ajudar aqui?

- Sim, sim!

Tatá ajudou-o servindo de apoio para que pudesse se equilibrar. Apesar de estar com o rosto todo machucado, tatá pode notar que o jovem era muito bonito. “ Como alguém tão bonito e tão bem vestido pode acabar vindo parar aqui? No mínimo foi assaltado e espancando por aí e jogaram-no aqui depois”.

- Por que ta me olhando assim?

-Sua jaqueta é muito bonita! – Pego de surpresa, foi a melhor desculpa que lhe veio a cabeça.

-É, eu sei.

Os dois caminharam na direção da saída do beco, ao sair, deram de frente com uma avenida bem movimentada. Ao olhar para aqueles carros indo e vindo, uma imagem veio a cabeça do rapaz ferido: Ele dirigia um carro, estava acompanhado, por uma moça, eles discutiam, parou então no acostamento e prosseguiram na discussão, foi então que o vidro do lado do carona estourou e um homem os mandou descer do carro, o homem estava muito nervoso e gritava agitando uma arma de forma ameaçadora, outro homem quebrou o vidro da janela do lado do motorista, então tudo ficou escuro.

- Se você atravessar por aquela passarela ali, poderá ir até o outro lado e chegará á estação do metrô, daqui da pra ver, ta vendo ali? – Tatá o trouxe de volta á realidade, mas seus pensamentos iam longe, acabara de lembrar seu nome.

- Ian, meu nome é Ian!

-Ian? É um nome bonito, ta conseguindo se lembrar de mais o que? – Tatá perguntou sem conseguir esconder a ansiedade e a curiosidade, se sentia feliz por poder fazer algo de importante em sua vida, ajudando seu novo amigo.

- Não vou pegar metrô, vou de ônibus, já sei aonde é minha casa – olhou para o menino que estava lhe ajudando sem nada pedir em troca e perguntou. – Você não quer ir comigo? Até eu chegar á casa da minha família? Quando chegar lá eu te dou uma boa gratificação. E então?

-Vou sim – Respondeu tatá sem titubear.

Perto da entrada da estação do metrô ficava um ponto de ônibus, atravessaram a passarela á passos lentos e enfim chegaram . O primeiro ônibus que chegou era justamente a linha que levava ao bairro que Ian conseguira se Lembrar que morava. O ônibus estava lotado, algumas pessoas já aguardavam no ponto e o encheu ainda mais, subiram e ficaram espremidos próximo ao motorista. Ian então se lembrou que não tinha dinheiro para a passagem e segredou isso á Tatá.

- Tatá, eu não tenho dinheiro, não estou com minha carteira, acho que me levaram em um assalto.

- Relaxa amigo, vou lhe ensinar um truque que faço para andar pela cidade inteira – Tranqüilizou-o Tatá. – E esse “ buzu” ta daquele jeito pra se fazer isso. Só precisa me avisar quando tiver chegando perto do seu ponto, duas paradas antes. Ta bom?

- Tudo bem – Mesmo sem compreender do que se tratava, Ian assentiu.

Os pensamentos de Ian continuavam longe, provocando ainda mais dor de cabeça, um turbilhão de imagens o deixava confuso. Não se lembrava de mais nada após o assalto, só de antes. A moça que estava com ele era sua noiva, Susana, ele não a amava, mas deseja que ela estivesse bem. Se lembrou de sua mãe, do seu pai, de dois irmãos, dos amigos da faculdade. A amnésia passageira estava ficando para trás, e isso o animava. Olhou para uma loja de eletrônicos passando lá fora. “ minha casa fica a 6 quadras daqui”.

- Tatá, daqui a pouco é aonde devemos descer, faça sua mágica!

-Pra já, só me siga, não fale nada. – Tatá apertou o sinal para o ônibus parar no próximo ponto.

O ônibus foi diminuindo a velocidade, a porta de entrada se abriu. Tatá pegou pelo braço de Ian e gritou:

- Vamos descer, rápido, corre.

Ian obedeceu, com muito esforço pulou os degraus de entrada do ônibus e correram na direção oposta ao sentido do ônibus. O ônibus fechou as portas e seguiu seu caminho. Não correram mais que 20 metros, Ian Estatelou-se no chão e começou a praguejar.

Tatá assustou-se com isso, mas relaxou quando começou a perceber que Ian agora sorria ao mesmo tempo que xingava. Ficaram longos minutos rindo ali sentados na calçada.

-Acho que nunca fiz nada parecido com isso, é todo dia isso com você?

- Todo os dias – Tatá respondeu orgulhoso.

-Agora precisamos ir, me ajude aqui de novo, você me quebrou ainda mais me obrigando a fazer essa loucura.

Ian ia refletindo sobre o que lhe acontecera, e sobre o como era cego para tudo quanto não fazia parte do seu mundinho. Nunca parara pra pensar que em meio àqueles becos haviam pessoas que mesmo sofridas ainda eram felizes, que mesmo derrubadas pelas drogas, ainda conseguiam enxergar a magia da vida. Depois que entrara na faculdade esqueceu de tudo o que acreditava ser essencial para ser feliz. A mulher com quem ia se casar ele não amava, os amigos com quem se relacionava eram superficiais e só se importavam com suas marcas de roupa e sobre qual festa foi a melhor. Lembrou-se de quando era adolescente, quando participava de uma ONG como voluntário, ajudando pessoas como Tatá. O tempo passou e de repente, nada disso lhe era mais importante. Se envergonhou ao se comparar com Tatá, que mesmo sendo uma criança, vivendo sozinha nas ruas, passando por todo tipo de privações ainda era feliz, enquanto ele, mesmo podendo ter de tudo, se sentia infeliz, pois nada em sua vida era de verdade, tudo era superficial, ele só seguia um padrão ditado por pessoas ainda mais superficiais. “Maldita vida essa que eu levo!”. Pensou consigo.

- Êita Ian, olha o tanto de coisa ruim ali naquela casa – Tatá chamou a atenção de Ian para a quantidade de viaturas da policia que havia de frente a uma enorme casa.

-Mas aquela é minha casa – Sua voz saiu quase inaudível.

Correu na direção da casa e chegou em tempo de ver sua mãe e um dos seus irmãos entrando em uma das viaturas, eles não estavam sendo presos, visto que entravam sozinhos no banco de trás e não estavam algemados, um dos policiais sentou-se ao lado de sua mãe e conversava algo bem próximo do ouvido dela.

Haviam mais três viaturas, e todas estavam saindo. Ian se dirigiu a uma delas e entrou no banco de trás gritando:

- Eu também tenho que ir, saber o que aconteceu, sou filho dela!

O policial o ignorou, ligou a viatura e acompanhou as outras viaturas. Todo tipo de pensamentos ruins passaram pela mente de Ian, imaginou se não teria ocorrido algo de ruim com Susana, ou com o outro irmão dele, ou até o com seu pai.

-Calma Ian, não se torture – Aconselhou Tatá.

- Ora, nem vi a hora que você entrou – Disse Ian surpreso.

- Entrei logo atrás de você Ian, mas tava tão nervoso olhando pra sua mãe saindo na outra viatura que nem percebeu. Se o policial reclamar, fala que eu tou com você? Por favor?

-Tudo bem – E não falou mais nada.

Dez minutos depois de saírem da porta da Casa de Ian, as viaturas chegaram à um enorme hospital público. Alguns policiais desceram e acompanharam a mãe e o irmão de Ian para o interior do hospital, passaram pela recepção que estava lotada, com pessoas reclamando de dor, outras choravam, enquanto algumas sofriam em silêncio, uma das atendentes perguntou do que se tratava.

- Reconhecimento – Respondeu com frieza o policial inquirido, em seguida entrou por uma porta, os outros o acompanharam.

Ian entrou pela mesma porta que os policiais e sua familia entraram, O corredor em que caminhavam era enorme. Tatá vinha logo atrás dele. A mãe de Ian seguiu com os policiais até última porta do corredor e entraram. Um dos policiais falou:

-Naquela maca senhora.

A mãe e o irmão de Ian caminharam lentamente em direção á maca. A senhora colocou as mãos no rosto e soltou um grito agudo e carregado de sofrimento. O irmão de Ian soluçava de tanto chorar, sobre a maca estava um corpo nu, todo desfigurado, impossível de ser reconhecido pelo rosto. Ian entrou no quarto, se dirigiu á maca, sentiu uma frieza correr por todo o corpo, seu estômago embrulhou, uma sensação de horror o dominou. O corpo que estava sobre a maca, possuía uma tatuagem no peito escrito: Mamãe Sônia, te amo. A mesma tatuagem que ele mandou fazer em si mesmo dois anos atrás.

Tatá olhou com tristeza para Ian, já havia feito sua parte, acompanhou o seu amigo até que ele descobrisse por si só que não estava mais vivo, sem dizer nada virou as costas e sumiu no ar.

*Segundo a doutrina espírita, muitas pessoas ao desencarnar, permanecem presas á terra, à vida que levavam antes da morte. Os motivos são diversos, mas entre eles há a permanência por conta dos vícios mundanos, fumantes, alcoolátras, drogados, pervertidos sexuais. Etc... Tais espíritos vampirizam pessoas vivas que tem o mesmo tipo de vício, continuando assim, a saciar-se mesmo depois de mortos. Os três meninos no caso são espíritos que estão obsediando viciados em drogas por aqueles becos.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Um dia de trabalho

São três horas da manhã, há dias que essa tortura começou. Felizmente em algumas horas ela irá acabar. Isso ocorre sempre que pego um novo serviço com o Alcides. A ansiedade me domina, e com seu sadismo vai me acabando até o último instante. Estou deitado no carpete no meio da sala observando o teto, a escuridão difusa, torna o forro branco em uma outra cor indefinível, que agrada os meus olhos. Minha mente imagina um cripta egípcia, um passo errado, uma armadilha ativada, os grandes blocos laterais vão se aproximando e o superior vai descendo lentamente, apreciando cada segundo do meu desespero de condenado. Desperto do devaneio e volto a minha odiosa realidade. Aqui, no mundo real, é bem pior, nesses dias de ansiedade aguda, eu desenvolvo a claustrofobia, esta aliada á minha ansiedade faz com que eu sinta as paredes de minha sala se fechando, vão crescendo pouco a pouco, uma taquicardia me domina, o suor escorre como uma cascata em minha testa. Depois voltam a posição inicial e com uma frieza cruel começam novamente a sessão de tortura. Uma sensação de alívio domina meu corpo, ao ver pela fresta da porta que o sol já está nascendo. Vou ao banheiro lavar o rosto, preciso agilizar por que não poderei ir com o meu carro, irei de ônibus. O meu banheiro tem vários espelhos, narcisista que sou, há vários outros espalhados por toda a casa. Observando meu rosto, meu corpo nu, analiso cada traço, cada curva, cada músculo, E me lembro dos bons momentos em que me torno amante fiel do querido supino. Faço caretas diante do espelho, direciono minha língua em várias direções. Isso me faz lembrar de uma conversa que eu tive com um amigo meu anos atrás, ele era um educador físico, e sempre dava alguma lição de boa saúde para os seus amigos. Comentou comigo que o sexo oral era bom não só pelo prazer que o homem ou a mulher poderiam ter, mas também pela quantidade de músculos que são trabalhados durante o ato, enrijecendo sua pele, evitando as rugas, fazendo-o parecer sempre jovial. Desde esse dia passei a praticar o ato em mulheres com muito mais freqüência. As pessoas que me visitam não sabem, mas muito dos meus espelhos possuem câmeras por trás delas, tenho uma enorme coleção de vídeos transando na cozinha, na sala, no quarto, e até no banheiro. Nossa, perdi noção do tempo, devo ter ficado me olhando no espelho por mais de meia hora, tomo um banho rápido, saio do banheiro e corro para meu quarto, molhando toda a sala. Pego meu terno e o visto, fico muito elegante nele, me cai muito bem. Apanho uma maletinha que estava guardada dentro do cofre, abro-a e analiso aquela arma, uma Mini Uzi negra, dois carregadores enormes, deviam caber mais de 30 balas em cada uma delas, essas balas de 9mm pontiagudas devem fazer muito estrago. Mesmo assim, ainda prefiro meu Colt Anaconda Magnum .44, cano longo, cromado, três janelas , um verdadeiro monstro, nunca me deixou na mão, mas o Alcides é o tipo inovador, e eu sigo o que ele manda, e mesmo meu Colt não daria conta do serviço que estava prestes a executar. Fecho a maleta, coloco meu Colt Sob o Paletó e saio. Não posso ir com o meu carro, precisarei roubar um, pegarei um ônibus até o Plano-Piloto e lá eu arrumo um. O ponto às sete horas aqui em Taguatinga está lotado, pouco provável que eu arrume alguma poltrona para me sentar. O ônibus que eu esperava chega, e parte da pequena multidão que se encontrava no ponto sobe junto comigo. As pessoas me olham estranho, não é comum um homem com os meus trajes pegando ônibus, no mínimo pensam que devem ter assaltado meu carro recentemente. Fico travado na roleta, não da mais para avançar, o ônibus ta abarrotado. Observo maravilhado algo que ocorre ao meu lado, uma criança, que não deve ter mais que dois anos, chora no colo da mãe quando esta afasta uma nota de dinheiro de perto dele, quando aproxima a nota ele se acalma. Fico imaginando o que ele fará quando crescer para conseguir o dinheiro que já cobiça ainda tão criança, com certeza irá usar métodos mais persuasivos do que apenas chorar.

Aos poucos o ônibus vai se esvaziando, arrumo uma poltrona vazia perto do fundo, bem atrás de mim um grupo de jovens com moletons e bonés com abas retas fazem algazarra e cantam Rap em voz alta, incomodam, mas ninguém reclama, medo talvez, mexer com a malandragem não traz lucro. Noto que eles cochicham e falam sobre mim, me irrito com isso, mas mantenho o controle, poderia fazer uma chacina ali se eu quisesse, mas não teria lucro algum com isso. Decido descer antes do meu ponto, para evitar maiores problemas. Pego um taxi para a Esplanada dos Ministérios, adoro aquele lugar, sinto imenso prazer em apreciar a arquitetura de Niemeyer, e imaginar J.K ali há mais de 50 anos dando vida a este lugar. Mas não posso me demorar, vou procurar por um carro que me apeteça por aqui mesmo. Em um estacionamento um casal discute calorosamente dentro de um Land Rover, me aproximo e aponto meu Colt. “Saiam do carro, não falem nada, e corram assim que saírem”. Eles obedecem, e sem maiores problemas tomo o volante e saio do estacionamento, sigo até o Eixo monumental, os alvos estão na asa sul, segundo o Alcides estarão os 5 em um posto de combustíveis na W3 Sul. Não demoro a chegar, o trânsito está fluindo bem hoje. Estaciono o carro e vou para a lanchonete da loja de conveniência, como Alcides me passou, os 5 estavam sentados na lanchonete e conversavam animadamente. Peço um suco de laranja á garçonete, me sento duas mesas de distância, coloco a maleta sobre a mesa, abro-a, sem eles perceberem, encaixo um carregador, destravo e me levanto, disparo contra o grupo, todos tentam fugir, mas caem logo em seguida, um deles consegue correr até a porta de saída, eu o atinjo nas costas. Vou a cada corpo e me certifico que estão mortos, a lanchonete, os funcionários do posto, todos sumiram ao ouvir os disparos. Vou embora em seguida, a polícia chegará em breve.