Quem sou eu

Sou um cara que ama a vida e tudo que ela tem a oferecer. Praticante de esportes de aventura, apaixonado por todo tipo de esporte que trabalhe a mente e o corpo de forma una e eletrizante. Degustem á vontade!

sábado, 19 de junho de 2010

O sedutor. Trecho 1/2.

- Você trouxe o gravador?
Perguntei ao rapaz que acabara de chegar de mocicleta. Seu nome, Rui, o Rui tivera somente uma namorada em 25 anos de uma vida infeliz, sem amor próprio, sem respeito próprio, uma vida sem sentido. O rapaz não sabia sequer o que era sexo, é capaz de ter levado mais chifres da primeira e única namorada do que a quantidade de vezes que pensou em apertar a bunda dela. Não era feio, teria tido sucesso com as mulheres se tivesse agido de forma diferente durante sua vida, talvez se não fosse tão inseguro.
- Trouxe sim – Ele me respondeu quase gaguejando, hesitante, me olhava e eu sentia que em sua imaginação ele me via como a própria personificação de Dionísio, senhor dos bacanais na mitologia grega, esse Dionísio era dos meus. – Mas... mas, não entendo ainda pra que você quer um gravador.
- Você vai entender irmão, tenha calma - Olhava-o e sentia que visualizava uma foto mal tirada, toda tremida, reflexo de seu nervosismo talvez. – Vê aquelas garotas ali naquele banco? Olha disfarçadamente, não aponta o dedo seu individúo, são as que estão debaixo da árvore.
- Vi, vi sim... não, quer dizer, tou vendo, aquelas três no banco verde não é?
Rui me procurara há quase dois meses, me abordou enquanto eu vegetava no gramado da praça, ele provavelmente escolheu me abordar quando a praça estivesse deserta, erámos só nós dois, conhecendo-o melhor, eu pude calcular o quanto épico foi a sua tentativa de abordagem. Ele estava nervoso, pensei logo que seria assaltado, olhos fundos e com olheiras, muito magro, abatido, deduzi de antemão que fosse um viciado em crack. Me enganei, não fui assaltado e ele não era viciado em crack, era só um acabado emocionalmente. Me chamou pelo nome em um tom receoso: “ Lúcio...” Olhei-o surpreso, disse que tinha uma proposta para me fazer, fiquei curioso. Convidei-o a irmos em uma lanchonete próxima, estimulei-o a se abrir, acho que estimulei demais, foram mais de três horas de lamentações, escutei com real interesse. Soube o quanto a vida dele era uma desgraça, soube que ainda amava a namorada que engravidara de outro enquanto ainda namoravam. Ele falou sobre tudo que podia ser falado, mas nada sobre a proposta. Foi preciso mais 1h para confortá-lo, e assim ele falou: “ Eu quero que me torne pelo menos a metade do homem que você é”. Me explicou que vinha me observando há algum tempo, disse que venerava o meu estilo de vida, observou que eu interagia todos os dias com alguma garota diferente, tava sempre acompanhado, Disse que eu devia seguir algum padrão pré definido, e que era nesse padrão que ele queria ser treinado. Deduziu isso após presenciar diversas abordagens que fiz com mulheres que eu não conhecia, nas ruas, e como sempre me via ficando e provavelmente indo para cama com elas após no máximo dois dias. Fiquei desconfiado, e sinceramente amendrontado, Rui havia me seguido, observado e analisado minhas atitudes, sabia de cada passo meu, ele devia ser algum tipo de psicopata, mas não, psicopata nenhum fica acabado emocionalmente, isso me aliviou. Ele era só um desesperado, me condoí com todo o seu relato e aceitei o encargo.
- Então irmão, você já dominou o básico de toda teoria necessária para partir para a prática.
- Hoje? Com aquelas garotas? – O medo era evidente em seu rosto, em sua voz, já estava afeiçoado ao Rui, e isso me deixava profundamente triste.
- Sim, hoje! Mas quem vai nelas sou eu, você vai depois em outras, tenha calma, já disse, não se abale e segura a merda dessa ansiedade – Falei com firmeza, queria que ele se preparasse para a parte mais dura de sua formação. – Use algumas daquelas técnicas de PNL para relaxar.
- Tá, tá bom.
- Vou lhe dizer agora para que o gravador – Olhava-o nos olhos, sentia sua ansiedade como a exalar pelos poros, se eu pudesse transferir coragem somente olhando nos olhos dele seria ótimo, puta merda! Ando viajando muito, os personagens da Queda de Atlântida de Marion Zimmer afetaram a minha lucidez. – Aquelas garotas, não as conheço, vou abordá-las, e fazer com que elas peguem o meu contato, elas vão me pedir por isso. Vou levar o gravador comigo, ligarei e agirei. Você ficará naquele banco com essa câmera e filmará toda a ação, entendeu o que eu te falei? O por que de tudo isso?
- Não sei, acho que tou, não se importe com a minha burrice, mas repete para eu entender melhor – O rui tinha disso, ele não era burro coisa nenhuma, mas gostava de fazer eu repetir as coisas, talvez para ter certeza do que escutou, ou esperando que eu fosse mais específico.
- É simples Rui, Com a câmera você filmará tudo o que eu fizer, com o gravador eu gravarei tudo o que eu falar, depois sentaremos e discutiremos tudo o que foi filmado e gravado, depois eu escolherei um grupo qualquer para você abrir e conseguir algum contato, não vai ser preciso deixar que elas peçam, você pode pedir, e depois iremos nós dois juntos, ora eu vou te apoiar, ora você vai me apoiar.
- Tem algo que não tou entendendo...
- Hã?! Já ta forçando, não posso ser mais claro que isso.
- Não, desculpa, eu não tinha entendido ainda, agora entendi.
- Entendeu? Entendeu mesmo? Vou tentar ser mais claro. Com o áudio você poderá analisar qual tom de voz eu usarei, o que eu usei para abordar, a reação delas, a respostas delas, enfim, toda o desenrolar do jogo. Com o vídeo você poderá analisar minha linguagem corporal e a delas, postura, expressão facial, gesticulação das mãos, movimentos leves com a cabeça e com o corpo. Cada reação delas será um sinal que indicará qual o próximo passo, veremos isso mais tarde, agora vou lá que elas podem ir embora.
Rui me pagava bem, no começo eu cobrava mesmo, me aproveitava da situação, depois, com o passar das semanas e com o aumento de nossa intimidade, eu não cobrei mais, ensinava por prazer. Mas mesmo assim, sempre que tirava um extrato o dinheiro tava lá na minha conta. Pedi para ele parar de fazer isso, Rui replicou: “ Não, não. Te pagando o teu estímulo para me treinar será maior, e o meu de aprender maior ainda, por que eu não tou doido a ponto de jogar dinheiro fora”. Não fiz objeção, o argumento era irrefutável, e mostrava que ele estava mesmo aprendendo, estimular pontos essenciais deixam o alvo da sedução mais vulnerável. Nos encontramos muito nessas últimas 8 semanas, passei tudo o que podia e que era de fácil compreensão na teoria, para iniciar a parte prática, com o tempo ele se aprofundaria mais nos mistérios das artes venusianas. Eu iria abordar e criar atração suficiente para elas pedirem o meu contato. Fiquei indeciso por uns instantes sobre qual forma agir, podia agir de forma direta, mas isso não seria bom ao Rui, é mais complicado, exige mais controle emocional, podia agir de forma indireta, isso era confuso, a tempos que não usava um estilo determinado, a forma natural, ou jogo natural me dominou, e optei por agir assim, depois eu explicaria tudo o que eu fiz passo a passo a ele. A abordagem não é algo complicado quando não se tem vergonha na cara, isso adianta um bom pedaço para a sedução. Olhei ao redor da praça, ao meu redor, ao redor das garotas, procurava uma frase de abertura situacional, nada padronizado, seria natural. Como um relâmpago uma idéia me acometeu, elas estavam sob uma árvore grande, lá no alto da copa dessa árvore muitos passáros cantavam. Passei lentamente por elas, sou atraente, bem apanhado, elas me notaram, mantive contato visual para criar uma tensão nelas, depois eu confortaria com o correr do jogo. Foquei na mais bonita delas, frisei a testa como que estranhando algo, me detive alguns metros após os banco e voltei.
- Ou guria, não te conheço não, mas como sou um cara solidário vou te livrar de pagar um mico dos bons, é que tem titica de passarinho na sua cabeça, vai ficar uma meleca só se não limpar.
Sorri amigavelmente para as outras duas, me despedi com um aceno e sai. Sabia que ela mexeria nos cabelos á procura da titica, pediria ajuda ás amigas, constataria que não tinha nada, ficaria irritada, confusa, interessada em saber por que disse aquilo, muitos sentimentos conflitantes. Bingo!
- Ei! Ei, você moço, peraí – Ela estava em pé acenando feito louca com os braços e me chamando. Voltei atrás, a abertura provocou a reação que eu queria, ela que buscou pelo contato, a atração está em sua fase inicial e partiu dela como eu queria.
Posto a outra parte nos próximos dias...

domingo, 6 de junho de 2010

Thaís na universidade

Um homem de pele clara, trajando uma bermuda escura, mirava o horizonte em pé sobre uns rochedos á beira-mar, tocava uma melodia qualquer em uma gaita de boca. O mar estava calmo, uma brisa leve soprava, o sol no poente tornava a superfície da águas em um alaranjado radiante, como se milhares de peixes dourados estivessem nadando e brincando alegremente. Qualquer cristão acreditaria, se lhe afirmassem isso, que ali era o paraíso. Thaís caminhava nas areias da praia em direção aos rochedos, um som qualquer a atraía sobrenaturalmente naquela direção, ela estava muito longe, quanto mais avançava, mais distantes os rochedos ficavam. Ela prosseguia com determinação, o receio do que encontraria ali, lhe despertava um frio incômodo no estômago. Ela avançava e se distanciava, forçou os passos, o suor que escorria pela sua testa fazia seus cabelos ficarem pregados ao rosto, não adiantava, ela se distanciava mais e mais, iniciou uma leve corrida, sentia-se ofegante, fadigada, o corpo todo pedia para parar, o desespero tomava conta de seu espírito, a distância fazia-a avistar os rochedos como um ponto minúsculo ao longe, o som que lhe atraía estava sumindo... TÁ! TÁ! TÁ!
Assustada, respiração descompassada e muito suada Thaís se senta na cama. Há meses que o mesmo pesadelo a atormenta, terminando sempre com o som de três estouros. A terapia a que vem se submetendo não surte efeito, o sonho repetitivo sempre a remetia ao dia que presenciou um assalto e um brutal assassinado em uma agência dos correios.
“Preciso superar isso, preciso...”. Pensava com angústia. “As aulas começam em duas semanas, você precisa superar isso garota, sei que você vai superar. Você vai superar...”. E se entrega a um choro profuso, carregado de emoções contraditórias.

A universidade era enorme, podia ser bem maior que muitas pequenas cidades, possuía vários prédios espalhados num enorme território fertilizado de saber, corredores que somados poderiam ser usados para sediar uma corrida de maratona. O movimento intenso de estudantes, calouros e veteranos ampliava a percepção da dimensão do lugar. Thaís estava deslumbrada, nunca vira algo tão colossal, o colégio federal aonde estudava no interior era grande, era... Observava cada detalhe, tudo que era mini ou macro, tudo era sensacional aos seus olhos, as árvores, os bancos, as janelas, o corredores, uma flor solitária e o gramado aonde residia, as pessoas, as expressões, os traços peculiares, narizes grandes e pequenos, bocas de lábios finos ou lábios grossos, negros ou brancos, cabeludos e carecas, louros, ruivos, black power, cada mínimo detalhe era uma mega descoberta. Não que ela nunca tivesse visto pessoas ou coisas assim, mas a sensação da sua nova fase de vida deixava-a sensível á tudo. Parada ali no meio de um pátio qualquer ela podia facilmente distinguir os calouros dos veteranos, os calouros, como ela, estavam em sua maioria extasiados com tudo aquilo, os veteranos olhavam a tudo com indiferença, ou nem olhavam.
“Primeiro dia de aula. O que será que vamos aprender hoje? Será que a aula é interessante? E a sala? Como será ela, pequena ou grande? E os professores? Serão legais ou muito austeros? E os colegas de turma, como devem ser?”. Dúvidas, apreensão, ansiedade. Perguntas como essas, e outras sem nexo algum eram formadas na mente de Thaís. Passar no vestibular, no curso de direito de uma das universidades mais disputadas no Brasil não foi fácil, estudou muito, se manteve reclusa do mundo, se envolveu em um invólucro, ficou alheia ás festas, às paqueras, aos convites das amigas para saírem. O esforço não ia parar por aí, se dedicaria igualmente aos estudos na universidade, nada de distração, paqueras, baladas.
- Porra guria! Não olha por onde anda não caralho?! – A violência na reclamação de um rapaz despertou Thaís de seus devaneios. Ela esbarrou em dois jovens, um deles tinha em mãos um copo com alguma bebida, o choque do encontro o fez involuntariamente derramar parte da bebida sobre suas vestes.
- Me desculpa, sério mesmo, eu não tinha visto vocês – escusou-se Thaís tentando limpar com seu casaco a camisa suja do rapaz.
- Não, não me toca guria! Desculpa é o caralho, como não viu a gente? Você é cega? – Gritou o rapaz com mais violência ainda. – Toma o resto.
O rapaz jogou o que sobrou da bebida no rosto de Thaís, a discussão já tinha atraído a atenção de todos que passavam, o ato do rapaz fez aumentar o burburinho que já havia.
- Esses calouros são foda! – Disse o outro rapaz olhando com desprezo para Thaís. – Vamos embora, antes que apareça alguém.
Saíram com pose de altas autoridades no meio das pessoas que estavam assistindo á discussão, todos se afastavam abrindo caminho. Estes olhavam Thaís penalizados.
“Podia esperar de tudo, tudo! Menos isso. Nunca fui tão humilhada. Que ódio! Que ódio! Ódio daqueles escrotos, ódio dessas pessoas que estão me olhando, como elas vêem isso e não fazem nada, não se manifestam, será que eram tão burros ou insensíveis que não conseguiram ler a ofensa nas entrelinhas? "vamos embora antes que alguém apareça”. Bando de filhos da puta, não perceberam que foram ofendidos também? Podiam ter tomado as dores, dizer que eles eram alguém sim. Bando de cornos, viados, vagabundas, quero que todos vão á merda, á merda!” O desabafo íntimo não aliviou a tensão de Thaís, ela saiu correndo olhando para o chão, precisava encontrar um banheiro para chorar á vontade.

Estava anoitecendo, se aproximando das sete horas da noite. A hora do “ rush” noturno naquela capital. Muitos ônibus, carros, motos, pedestres e ciclitas, mistura de sons insuportável. Aquilo tudo atordoava Thaís, ela procurava pelo ponto de ônibus aonde descera pela manhã cedo. Não conseguia encontra-lo, o estresse lhe injetou uma forte dor de cabeça, tudo o que queria era ir para casa, tomar um banho, deitar e dormir, de preferência dormir para nunca mais acordar. Muitos carros estavam estacionados no acostamento, viu um homem parado à porta de um desses carros conversando com outro que estava ao volante, e foi direto a ele para perguntar aonde era o ponto mais próximo.
- Olá, boa noite! O senhor po... – Um choque de surpresa acometeu Thaís, o homem era o mesmo que lhe jogou uma bebida no rosto na universidade. – Desculpa, eu me enganei – Saiu sem olhar para trás desejando se jogar na frente de um daqueles ônibus.
Não caminhou muito, o ponto estava a 50m de onde ela parou para pedir informação, se amaldiçoou muito mais depois de perceber isso.
Do ponto, ela pode ver o rapaz dando a volta no carro e entrando pela porta direita, que ficava para o lado da via. Viu também uma moto amarela que se aproximava lentamente do carro vindo na contramão. Os rapazes não notaram a aproximação, não notaram o piloto sacando uma arma, é provável que nem tivessem notado quando que foram mortos. O piloto sacou a arma e disparou várias vezes contra os dois rapazes dentro do carro. Com muita tranqüilidade o piloto ainda olha para dentro do carro para se certificar que não havia nenhum movimento vital, põe a arma na cintura, engata a primeira e sai lentamente do local ainda na contramão. As pessoas que estavam no ponto de ônibus correram, algumas ainda ficaram e se jogaram no chão, tomados de assombro. A tranqüilidade com que o piloto andava na via pela contramão deixaram os circunstantes mais assustados, a impressão que dava é que ele iria alvejar os que ficaram deitados. Ele nada fez, olhou para Thaís, acenou com uma das mãos, acelerou e sumiu no meio dos carros.